quarta-feira, 16 de junho de 2010

O encontro

Vou te contar como tudo começou. Era um dia como outro qualquer, daqueles repleto de normalidades. O despertador soou, como acontecia religiosamente todos os dias, às 6 horas da manhã. Desliguei. Cinco minutos mais tarde, a função soneca dispara e eu hesitei, mas como sabia tinha um seminário para apresentar logo na primeira aula na faculdade, não pude mais enrolar na cama. Levantei.
Me arrumei com a mesma pressa de sempre, saí de casa e vi o ônibus vindo, então corri, e fui para meu campus. Até aí tudo normal. Acabou a aula, saí da faculdade em direção ao centro, iria almoçar com a Pâ, uma amiga de muito tempo, no lugarzinho que sempre nos encontrávamos quando éramos adolescentes: McDonald (não sou muito chegada, nesses lanches de lá, mas como ela adorava, e sempre me remetia a lembranças deliciosas, ali se tornou nosso ponto de encontro).
Quando cheguei olhei ao redor e a vi sentada, já com nossos lanches na mesa (pois sempre pedíamos a mesma coisa), mas havia algo diferente, naquela cena, algo que nunca esteve lá, algo que me desconcertou por alguns instantes. Ok, você deve estar se perguntando do que eu estou falando, mas eu disse que o lugar era o de sempre, o lanche o de sempre, minha amiga a de sempre, e tudo sempre funcionou assim pra mim, principalmente, porque quando eu a Pâmela nos encontrávamos lá no Mac, isso significava que ela tinha alguma novidade pra me contar, pois lá era nossa “fortaleza”, nosso lugar, sempre de nós duas, e apenas nós duas, era onde não dividíamos nossa amizade com mais ninguém. E de repente, eu olho e vejo alguém sentado com ela, lá, no MEU lugar, fiquei estarrecida, e fiquei ainda mais perplexa, quando percebi que ela estava alheia aquilo tudo que se passava comigo, pois acenava com ambas as mãos e sorria alegremente para mim. Então, saí daquele transe.
Aproximei-me de Pâ, a passos lentos e fiquei surpresa, quando ela me apresentou ao seu amigo, e colega de faculdade, o Eduardo. Novamente entrei em transe, novamente por causa daquela figura que nunca antes havia visto. Eduardo, era um rapaz alto, de pele morena clara, muito dourada, por causa do sol, olhos castanhos esverdeados, com um olhar penetrante e singelo, não tinha um olhar de conquistador ou do tipo Don Juan, mas tinha um olhar profundo, transcendente e ao mesmo tempo, tímido e melancólico. Me perdi ali, em seus olhos, parecia que meu corpo não respondia a mais nada, como se meu coração tivesse parado de bater e meus pulmões parado de respirar, as vozes estavam, agora, em algum lugar ao longe, tinha me esquecido completamente de onde estava, e fazendo o que e nem sequer lembrei da Pâmela. Foi então que despertei daquele meu segundo transe, quando Pâmela me dera um cutucão, pra me contar o as novidades e o real motivo que nos trouxera até ali.
Ela falou algo sobre alguém com quem tínhamos estudado, que ia se casar e que a tinha convidado para ser madrinha, ou alguma coisa do gênero, que minha mente não conseguiu captar direito, mesmo com meu maior esforço, pois minha atenção estava voltada toda para aquele par de olhos, como um imã criando uma onda magnética entre nós dois. Sim, entre nós dois, pois seu olhar não saía do meu nem por um instante. Até que subitamente, percebemos um silêncio e uns risinhos constrangedores, era Pâ, que havia acabado sua história, ou havia percebido que não estávamos prestando muita atenção nela. Foi neste momento que recebi uma “alfinetada” de minha melhor amiga:
Fer, e como vão às coisas entre você e o Rafa?
Ãhn, que? Eu e o Rafa? - O Rafael era um carinha com quem eu tinha ficado, por muita insistência da Pâ, que vivia dizendo que eu não me interessava por ninguém porque não dava chance dos “carinhas legais”, segundo ela, chegarem perto de mim. Mas eu tinha ficado com ele e isso não havia resultado em nada, e a Pâmela sabia disso tão bem quanto eu, e jamais traria o nome do Rafa a essa conversa se... claro! A menos que ela quisesse que o Eduardo soubesse da existência de um possível namorado, caso, rolo. Algo, ficou muito claro em minha mente, Pâmela estava interessada no Eduardo. E mais, ela queria que eu percebesse isso.
Ah, a gente tem se falado, acho que vamos sair nesse fim de semana, pra nos conhecermos melhor. - O que eu estava fazendo? Não precisava ter inventado aquilo. Os olhos do Eduardo perderam contato com os meus, sua fisionomia mudou, e ele olhou para seu relógio, pediu desculpas, e levantou-se para ir, disse que tinha um compromisso que havia esquecido e para o qual estava atrasado. Deu um beijo na bochecha da Pâmela e um na minha e saiu, sem dar maiores explicações.
Pâ, fingiu que nada tinha acontecido, começou a falar sobre o Eduardo, o como ele era lindo, inteligente, tudo para que eu tivesse certeza absoluta que ELE “pertencia” a ELA, que ELA o conhecera primeiro, e que eu não poderia me interessar por ele. Isso trai uma espécie de código de honra entre amigas: a) nunca ficar com um ex de sua amiga; b) nunca ficar amiga da atual namorada do ex da sua amiga; c) nunca, jamais, se interessar pelo objeto de interesse de sua amiga (no caso: Eduardo).
Conversamos sobre mais algumas coisas e fui embora. Trabalhei a tarde toda, sem perceber nada ao meu redor, e quando meu expediente acabou, fui para casa, exausta. Liguei o note, executei minha playlist, entrei no msn, e-mail, orkut, abri minha página do twitter, atualizei meu blog, tudo para tentar ocupar a minha mente. Foi em vão, continuei perdida em meus pensamentos. Na verdade meus pensamentos, ainda, estavam perdidos naqueles olhos, naquela força de atração que Eduardo exercia sobre mim, não conseguia pensar em outra coisa, a não ser quando a imagem de Pâmela vinha a minha mente. Adormeci, em meio àqueles sentimentos que eu não estava acostumada a sentir. Aquele dia, definitivamente não fora um dia normal. Fora um dia, que sem que eu quisesse, ou percebesse me mudou para sempre.

[Pauta In Verbis – 2ª Edição]

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