quinta-feira, 17 de junho de 2010

A surpresa

Os dias que se seguiram àquele encontro foram muito estranhos, Pâ já não retornava mais minhas ligações, nem meus e-mails, e comecei a me sentir pior ainda. Fiquei sabendo por uma outra amiga que tínhamos em comum, a Sil, que a Pâ tinha falado com o Eduardo e ele não quis ficar com ela. Ela ficou arrasada e comentou com a Sil que a culpa era minha. A Sil, que não sabia, exatamente, o que tinha acontecido, quis saber minha versão da história, pois ela nunca tinha visto Pâ falar de mim assim, e me culpar por alguma coisa.
No final das contas, a Sil se mostrou uma verdadeira amiga, pois tentava fazer a Pâmela entender que eu não havia feito nada, e que, se rolou um clima entre mim e o Eduardo, ninguém tinha culpa de nada daquilo, que as coisas do coração ninguém comanda, e que ela deveria ver que na verdade eu não havia traído sua confiança, pois depois daquele dia eu nunca mais tinha visto ou sequer falado com o Eduardo novamente.
Passaram-se, exatamente, dois meses, até que as coisas começaram a voltar ao normal. Pâmela já estava de namoradinho novo e me ligou para que eu saísse com um amigo do tal carinha. Eu recusei, pois não queria me envolver com ninguém, não depois do que tinha acontecido(ou melhor, do que não tinha acontecido) entre mim e o Eduardo. Era engraçado, mas eu ainda não tinha conseguido esquecer aqueles olhos, não tinha conseguido superar a falta que aquele desconhecido me fazia. É tão estranho, se sentir vulnerável, e atraída por alguém que você mal conhece.
Mais uns dias se passaram. Eu estava jogada em minha cama, com o meu Ipod executando minha playlist preferida, isso já era por volta da 1:00 da manhã, não conseguia dormir. Aliás, era nessa hora que eu me perdia em meus pensamentos, pensava nele, em que ele estava fazendo, e com quem, pensava no porquê de eu não conseguir tirar aquele garoto de minha mente, foi quando senti uma coisa vibrar em cima cama e uma luzinha se acender. Era meu celular. Uma mensagem. Atordoada, abri a mensagem e li. “Não consigo parar de pensar em você. Desde o dia em que nos conhecemos, sua imagem me atormenta. Preciso te ver.”. Atordoada, meio dormindo e meio acordada, achei que era um engano. E quando me preparei para ler novamente e ver se eu tinha lido direito, outra mensagem chegou. Abri. Uma palavra: “Eduardo”.
Naquele momento, meu mundo parou, tudo saiu da sua órbita. Nada mais estava em seu lugar. Meu coração pulsava, incessantemente. Meus pensamentos giravam e não conseguiam seguir uma lógica. Só uma coisa importava: Ele. Saber que ele se sentia como eu, era um alívio. Mas o que eu poderia fazer? Não poderia simplesmente responder e dizer: “Oi eu também preciso te ver. Você não sai da minha cabeça desde aquele mesmo dia. Ah, a propósito, dane-se a aminha melhor amiga, que bom que você não quis ficar com ela”. Fernanda, Fernanda, isso é impossível. Não vai dar certo. Ficava pensando comigo mesma. Até que escrevi e envie: “Amanhã, no mesmo horário, no mesmo lugar.” E ele respondeu: “Estarei lá! Beijos!”.
Nem consegui dormir. Fui pra faculdade pela manhã, mas mais parecia um zumbi, do que qualquer outra coisa. Estava atônita, estarrecida. Meus sentimentos dentro de mim estavam à flor da pele. Quando cheguei no Mac, e vi aqueles olhos, me fitando, na mesma mesa de antes, com os nossos lanches, sorrindo para mim, tudo dentro de mim estremeceu. Eu entrei em ebulição. Cheguei perto dele e abri um sorriso amarelo, sem graça. Afinal de contas, o que eu estava fazendo ali? Porque ele esperou tanto tempo pra me procurar? O que será que ele tinha para me dizer?
Pedi o seu lanche. Espero que eu tenha acertado. - Sorriu um sorriso sem graça. Mas que iluminou meu coração.
Ah, acertou sim. - Qualquer coisa que ele tivesse pedido, eu diria que ele estava certo. Mas como eu sempre pedia o clássico Big Mac não tinha erro.
Desculpe não ter falado com você antes, mas depois que as coisas ficaram estranhas entre mim e a Pâmela, eu imaginei que as coisas ficariam difíceis pra vocês duas, e eu não queria ficar entre duas grandes amigas. - Ele falou com a cabeça baixa e com uma voz sentida. - Achei melhor esperar até que vocês duas se acertassem, assim a Pâmela não ficaria chateada com a gente. Mas não consegui deixar de pensar em você em nenhum segundo sequer desde aquele dia. - Fiquei muda. Não sabia o que dizer. Nunca imaginei que ele estivesse tendo este tipo de consideração por mim e pela Pâmela. Era mais do que eu poderia imaginar. Ele continuou:
Pena que só agora consegui coragem para te falar tudo isso. - Não entendi. - Mas tudo bem, pelo menos eu precisava te ver mais uma vez, antes de ir. - Pára tudo! Isto é uma despedida? Ele vai embora? Como assim?
Ãhm? O que? - Foi só que consegui balbuciar.
Eu estou indo embora amanhã. Vou voltar para a cidade de meus pais. Vim pra cá só pra fazer a faculdade e agora que terminou, vou voltar pra casa. Meu pai tem um escritório de advocacia em Sampa e quer que eu vá pra lá, trabalhar com ele. - Não consegui mais respirar, ele estava me deixando. Eu o estava perdendo, mesmo sem o ter, pela segunda vez.
Da forma mais improvável, eu levantei dali, como que em um surto. E sai. Eu não queria ouvir, eu não queria acreditar. Como meu coração se deixou apaixonar por alguém que não conhece e que agora estava indo embora? Eu não podia, e não queria ouvir mais nada. Quando cheguei na calçada, corri, sem direção o máximo que pude, ouvi uns sons que pareciam o meu nome, mas não pude parar. Até que alguém me pegou pela cintura, sem o mínimo esforço me virou para si e me abraçou. Eu só ouvia alguma coisa que se repetia, que parecia com: “Está tudo bem, vai ficar tudo bem. Não se preocupe.” Minha vontade era de gritar, chorar. De qualquer modo, de que adianta chorar quando todas as lágrimas do mundo não mudaria a situação? Até que eu ouvi umas palavras que fizeram a diferença pra mim: “Vamos aproveitar o pouco tempo que temos”. Eu o abracei e concordei com ele. E quando levantei minha cabeça, para falar, seus lábios encontraram os meus, e nós nos beijamos em beijo, quente, ardente, suave, que fez minha cabeça girar e o mundo ficar pequeno e nada mais importar. Senti muitas reações acontecendo dentro de mim, uma mistura de sentimentos, uma injeção de felicidade, parecia que tínhamos sido feitos um para o outro, a sincronia que havia entre nós era algo fabuloso.
Passamos aquela tarde toda juntos, trocando carinhos, abraços e beijos apaixonados. Eu sentia que ele estava aproveitando tanto quanto eu, e que ele sentia tanto quanto eu, a sua partida, no dia seguinte. Mas tentamos nos esquecer disto, e nos concentrar no agora. E funcionou pra mim. Aquela foi uma das melhores tardes que eu já havia vivido. Mas quando a noite chegou, veio com ela também, um sentimento de perda. Eu estava perdendo o Eduardo pela segunda vez. Mas agora era pior, pois já havia provado seu beijo, sentido o calor do seu abraço, e não seria fácil viver sem aquilo que agora eu já conhecia.

[Pauta letra e música 3ª Edição – Edição de letras]

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