segunda-feira, 21 de junho de 2010

Encontro

- Você está bem? - Perguntou-me o moço de pele dourada, quando se abaixou para me ajudar a juntar os livros que tinham caído dos meus braços quando nos esbarramos.

- Estou. -menti. Menti, por que obviamente não estava nada bem. Me sentia um pouco enjoada e tonta, acho que era por causa do calor que fazia aquela cidade. Nunca senti nada igual, imagina devia estar fazendo uns 40º.

Era minha primeira visita ao Rio de Janeiro, tinha ido para assistir à uma conferência sobre o tema do meu mestrado, indicado por minha orientadora, e eu já estava sendo a mesma atrapalhada de sempre. Pra variar estava atrasada para encontrar com ela. A conferência seria apenas à noite, mas ela queria me ver, certamente, para apontar mais uma vez as falhas de meu projeto. E pra completar, nem bem desci do táxi com minha pilha de livros, esbarrei em um rapaz que estava correndo na calçada.

- Você não parece bem. Deixa que eu lhe ajudo.

- Está tudo bem, só não estou acostumada com o clima.

-Desculpe, meu nome é Rodrigo. - ele me estendeu a mão, e acredito, que seu maior sorriso. E que sorriso.

- Ahn. Ana.

- Não é daqui, então?

- Não.

- Deixa eu adivinhar, é do sul, tem um sotaque muito bonito.

- Obrigada, sou de Curitiba.

- Hum da Capital Ecológica.

- Isso.

Ele me acompanhou até a metade da quadra, tentando descobrir o máximo sobre mim, e eu tentando ser o mais objetiva possível. Me ajudou com os livros, agradeci, e me despedi, quando paramos na porta do hotel.

- Ok. Obrigada pela gentileza.

- Era o mínimo que eu poderia fazer. - Sorriu. Se ele queria me conquistar com aquele sorriso malandro. Estava conseguindo.

- Obrigada novamente. - Sorri timidamente de volta.

Virei as costas, e quando ia passar pela porta de vidro, ele falou:

- Tem alguma chance de você tomar uma água de coco comigo?

- Desculpe, estou atrasada.

- Ok, quem sabe mais tarde.

Sorri. E acho que ele entendeu aquilo como um "não, sem chance", pois concluiu.

- Ok, já entendi, se cuida. Tchau.

- Tchau.

Continuei atordoada, não só pelo calor, ou pela maresia, mas também por aquele sorriso encantador, ou melhor sedutor. Acho que nunca tinha visto alguém sorrir assim, literalmente, como aquelas propagandas de pasta de dente.

- Ana, se concentra, por isso que este seu projeto não vai pra frente, assim você não vai concluir isto nunca. - Isso é um verdadeiro balde de água gelada. Valéria era minha orientadora. Valéria Marcante. A versão real de Miranda Priestly, personagem de Meryl Streep, em O diabo veste prada. Após duas horas de revisão, fomos nos arrumar para a conferência, que seria em uma hora.

Chegamos na Galeria onde haveria a tal palestra. Quanta gente, esse cara deve ser importante mesmo. embora eu nunca tivera ouvido falar dele, ele defendia uma tese que fazia uma co-relação muito interessante. Havia lido muitos de seus artigos. Mas nunca havia visto como era, pois ele não gostava e não permitia que publicassem fotos ou expusessem sua imagem. Eu, em minhas divagações, é claro, imaginava-o velho, gordo e careca, pois que outro motivo para não publicar sua imagem. Enfim, hoje eu iria dar um rosto ao senhor R. Mello.

- Oi. - Estremeci, quando alguém sussurrou em meu ouvido. Me virei.

- Ahn, oi. O que você está fazendo aqui? - Perguntei, quando vi que era Rodrigo, o moço de antes que estava falando comigo.

- Eu poderia perguntar a mesma coisa, mas seria incoerente. Afinal o que as pessoas vem fazer em uma conferência, não é mesmo. - ele riu, e me fez sentir uma boba por minha pergunta. Mas ainda bem que só deu tempo de eu dizer aquilo, porque eu já ia perguntar se ele estava me seguindo. - Você veio assistir as palestras, certo?

- Sim - respondi - e você, pelo visto também?

- Não.

- Não? - Indaguei, será que ele estava me seguindo mesmo.

- Na verdade, eu vou dar uma das palestras. - Agora sim, eu estava sendo uma boba. O carinha que eu conheci hoje mais cedo, era um dos palestrantes. Peraí, R. Mello / Rodrigo / R. Mello. Não pode ser!

- Você é Rodrigo Mello?

- Sim. - Fiquei muda. Atônita. Perplexa.

- Acho melhor eu ir, tenho que dar uma palestra.

- Claro. - sorri, completamente, sem graça.

- Ana, agora que você já sabe que não sou um maníaco, aceita tomar alguma coisa mais tarde.

A verdade é que aceitei, e nos três dias seguintes, Rodrigo e eu estávamos mais envolvidos do que eu poderia supor, a três dias atrás. Mas estava chegando a hora em que eu voltaria para Curitiba. Restava-me apenas dois dias, antes de meu embarque.

Rodrigo, me levava em todos os lugares mais lindos do Rio, e eu já nem me importava mais com o calor, ou com a maresia, se ele estivesse ao meu lado, nada importava.

Naquela tarde, ele me levou para ver o pôr-do-sol em de onde pudessemos ver o mar, sentamos e ficamos deslumbrando aquele gigante mar de águas. Havia entre nós um silêncio, que não era nem um pouco constrangedor. Não precisávamos preencher o vazio entre nós com palavras. Mas, num dado instante [que eu não sei precisar bem], ele quebrou o silêncio e falou:

- Ana, que será de mim agora? - Sorri, me fazendo de desentendida e perguntei:

- O que você quer dizer? Não entendi?

- O que farei quando você se for?

- Tudo o que sempre fez. Rodrigo, você só me conhece a três dias.

- Um minuto! - Exclamou ele. - Foi o tempo que precisei para saber que você ia mudar a minha vida. Mas por que o destino está sendo cruel comigo, por que o tempo quando estou com você é tão insuficiente, pra sanar a minha vontade de você.

Neste momento, lembrei-me de uma citação do saudoso Caio Fernando Abreu, "o tempo que temos, se estamos atentos, será sempre exato". Mas naquele momento, naquela situação, eu também sentia como o Rodrigo, tempo nenhum seria suficiente para sanar a necessidade que eu tinha dele, pensei em falar alguma coisa, mas lembrei de outra citação de Caio, então puxei Rodrigo pra perto de mim, envolvi seu rosto em minhas mãos e o beijei. Pois, segundo Caio F. Abreu "quando se deseja realmente dizer alguma coisa, as palavras são inúteis".





2 comentários:

  1. Bom texto mas eu vou parar de escrever pro ouat até eu ver que há um eloquência nos vencedores!

    são sempre os mesmos!

    ae não dá!

    hehehehe

    mas sorte!

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  2. Imaginei que vc diria isso!

    hehehehe'

    eu ri muito!

    mas obrigado!

    Mas é que o OUAT só ganha as mesmas pessoas, sei lá!

    Eu parei de escrever mesmo!

    Mas o texto tá muito bom mesmo!

    Torcendo 1000 por vc!

    Vc tbm é muito criativa!

    Sorte nesse mundo textual dos blogs...

    Eu tbm n conhecia muito...

    escrevo há menos de dois meses e nem chega a isso ainda!

    Mas sabe né?

    Obrigadão!

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