quarta-feira, 28 de julho de 2010

Descoberta

Corri quatro quarteirões o mais rápido que pude. Minha respiração estava ofegante quando cheguei em frente aquela casa branca de portas e janelas azuis. Nunca pensei que ficaria tão feliz em ver aquele jardim, nunca havia reparado como era belo. Parei bem em frente ao portão, queria gritar por seu nome. Não podia deixar você ir embora daquele jeito. Durante todo o tempo que nos conhecíamos nunca havíamos brigado, nem sequer discutido. Você sempre foi como um irmão pra mim. Sempre me ajudando com tudo.
Sempre conversamos sobre tudo, nunca tivemos segredos um com o outro, ou, pelo menos eu achava que não tínhamos. Mas depois da manhã de hoje tudo mudou. É claro que eu estava triste, afinal, meu melhor amigo estava de mudança para o Canadá, e não tinha previsão para voltar, e eu nem conseguiria me imaginar pegando um avião para ir te visitar. Até aí tudo bem... Já estava há algum tempo me preparando psicologicamente para este momento. Mas quando você me disse todas aquelas coisas perdi meu chão. Por que você esperou até o dia de hoje para me dizer como realmente se sentia em relação a mim?
O pior não foi você me dizer que sempre me amou e que vai continuar a me amar, mesmo estando longe. O pior foi você me fazer perceber o quanto eu te amo, quando nem mesmo eu tinha idéia. Por isso fiquei tão surtada, e disse aquelas coisas. Preciso me desculpar com você, preciso dizer o que realmente sinto. O choro cai quente sobre meu rosto, não há mais ninguém na casa, cheguei tarde.
Ouvi um barulho na porta dos fundos, e uma voz. Ah, essa voz eu reconheceria em qualquer lugar, corri pra lá, e meus olhos encontraram o seus. Você estava no telefone, e deixou ele cair ao chão. Olhou pra mim com uma amargura que eu não estava acostumada a ver em sua face, e ríspidamente me perguntou:
_ O que quer aqui?
_ Antes de você partir, preciso te revelar uma coisa muito importante.
_ Acho que já revelamos muitas coisas importantes hoje, não acredito que aja mais alguma coisa a ser dita, Amanda.
_ Não faz assim, eu realmente preciso me explicar, eu sei que não devia ter dito aquelas coisas, mas é que eu fiquei tão atordoada com tudo. Você estava certo, eu só estava escondendo tudo o que eu sentia, e consegui esconder bem até hoje. Mas agora não dá mais. Eu realmente amo você. Me perdoa._ Baixei meu olhos até encontrar o chã._ Espero que você possa encontrar alguém que lhe dê todo o valor que você merece, e todo o amor que eu não fui capaz de dar a você._ Terminei de falar essas palavras, já com a face úmida pelas lágrimas que escorriam sem esforço, e sem controle. Ele nada falou, nenhuma expressão havia em seu rosto. Vire-me de costas e saí correndo, em direção ao Lago Less, onde sempre nos encontrávamos nas tardes depois da aula. Após alguns instantes, senti passos fortes e rápidos atrás de mim, mas nem consegui virar para ver quem era. Até que esses passos chegaram mais perto, e eu ouvi aquela voz dizendo meu nome. Parei. Senti seus braços me envolvendo, e me virando para si. Nos abraçamos num abraço forte, e quente. Não conseguia balbuciar nenhuma só palavra, mas as palavras não eram necessárias ali.
Você segurou meu rosto em suas mãos, e me beijou. Naquele instante, só conseguia sentir o mundo girar ao meu redor. Um calor subiu dentro de mim, e me fez desejar ficar ali com você para sempre. Meu mundo parou naquele instante. Nada mais fazia sentido, nada mais importava, se você não estivesse comigo.



Pauta:
Bloínquês - Edição Conto / História

Um comentário: