sexta-feira, 16 de julho de 2010

Cotidiano

Sabe aquele dia em que você acorda com a sensação de que devia continuar deitada, no conforto de sua cama e na segurança, absoluta de seu quarto? Então, para mim, hoje foi um desses dias...
Acordei, com esse sentimento estranho, e não era só minha preguiça costumeira, minha inimiga de plantão, mas parecia que as forças do universo, estavam me suplicando que não saísse de minha cama. Desafiando a todos os sinais, levantei. Olhei no relógio: atrasada! Saí correndo.
Chegando no meu trabalho tinha uma dúzia de pilhas de planilhas para analisar, na terceira, já estava com uma enxaqueca lascada. Em algum lugar do escritório, havia um idiota que não se cansava de fazer “tic-tac” com a caneta, outra estava há horas no telefone, falando futilidades, e rindo alto. E sem contar naquele som de telefones tocando, incessantemente. Tudo isso seria muito mais do que o normal, se não fosse o fato, de eu estar de TPM, aquela enxaqueca ter me pegado de jeito, e ainda a mensagem de meu chefe me pedindo para acabar as planilhas até às 16 horas.
Corri contra o tempo, minha irritação, e, é claro, minha cólica infernal e enxaqueca insuportável. Mas no prazo estipulado, eu havia concluído toda aquela pilha de trabalho. Fui até a sala de meu chefe, e após ele conferir tudo, pediu para eu passar no RH. Estranhei. Quando cheguei lá, a Pri, minha melhor amiga, me olhou arregalada e disse que havia um memorando pra mim, nem acreditei.
Ali mesmo, comecei a gritar com ela, como ela pode fazer aquilo comigo. Eu estava sendo dispensada, ela nem pra me alertar e me avisar. E o que mais me irritava era ela se desculpando: “Eu sinto muito, não podia fazer nada. Me desculpe.”. Aquelas palavras pra mim, não faziam nenhum sentido, não tinham nenhum valor. Saí dali, arrumei minhas coisas. A esta altura, todo mundo já supunha o que tinha acontecido, eu estava chorando, sem saber se era de raiva, de dor, de ódio, de tristeza, não importava. Nem esperei dar 18 horas e saí.
Eu acho que as pessoas mereciam uma certa dignidade quando são demitidas. E não um simples memorando, agradecendo serviços prestados, e dizendo que fora uma excelente profissional, e que o motivo era de corte de despesas. E blá, blá, blá, blá,blá, blá...
Para completar o dia, mais que perfeito, a chuva que caía, aquela garoa bem paulistana, acabou com a escova de meu cabelo, levei um esguicho de água de um ônibus que acabará de passar, e o celular de meu namorado, aquele que deveria me dar um certo apoio neste momento, só caia na caixa.
Cheguei em casa acabada, encharcada, irritada, menstruada, desempregada e pior, descabelada. Quando entrei pela sala, toda minha família e alguns amigos estavam reunidos. Será que era uma festa? Para celebrar o meu fracasso? Sim, era uma festa. E, pelo pouco que compreendi, minha irmã caçula recebeu uma bolsa de estudos em Cabridge de 2 anos e seu namorado acabara de lhe pedir a mão. Não, meu dia não poderia terminar melhor.
Com o maior sorriso amarelo cumprimentei a todos, subi as escadas a passos duplos, entrei em meu quarto, e me debulhei em lágrimas. Por que, pra mim tudo dá errado? Como posso ser uma fracassada? Após alguns instantes, meu pai entrou em meu quarto e me perguntou o que havia acontecido. Resumidamente, contei-lhe sobre meu dia e como eu me sentia uma fracassada.
Eu estava muito irritada, me sentindo muito mal, e queria descontar toda minha frustração em alguém. E já fui logo dizendo.
_ Eu sei que você vai me dizer: “Eu avisei, você não quis me escutar...”
Mas meu pai, sabiamente, abraçou-me com seu abraço mais singelo. Colocou-me em seu colo, como fazia quando eu era criança e me disse:
_ Eu odeio te ver chorar, portanto, acabe com suas lágrimas e escute, minha filha querida. Você sabe que amo vocês duas muito. Mas que sempre tive por ti um carinho especial. Você não é como sua irmã ou sua mãe, sempre foi mais teimosa, assim como eu, mas tem um caminho brilhante para traçar. Não se fruste, por não ter o trabalho dos sonhos, ou qualquer coisa que todos tenham, você foi feita para ter mais, para ser melhor, pelo simples fato de que você é única, especial e corajosa, muito corajosa. Nunca deixe que os desafios da vida desanimem você, e façam você parar de sonhar e lutar por seus sonhos.
Ele falou muitas outras coisas, mas nestas simples palavras, percebi, que todos tem dias ruis, alguns não são tão péssimos assim como o meu, mas que eu deveria ver naquilo uma oportunidade de seguir meu sonho.
Então, meu pai saiu, tomei um super banho, comemorei com minha família, meu namorado e amigos, e ao me deitar, deixei minha mente livre para que eu pudesse sonhar novos sonhos, traçar novas metas, e encontrar meu novo eu. Afinal, que mulher não precisa de um drama em sua vida, de vez em quando, para redescobri a alegria de viver?

Pauta:
Bloínquês – Edição Musical
OPEP


3 comentários:

  1. Puxa, que sofrimento. Pensei que fosse um desabafo pessoal. Espero que não seja!

    Ir pra Londres, estudar em Cambrige, oulálá! deve ser maravilhoso! O irmã de sorte essa!

    Gostei de sua visão, vc é dez.

    Parabéns

    ResponderExcluir